Meu principal projeto de costura histórica de 2024 foi fazer um traje renascentista completo para o II Picnic de Costura histérica, que aconteceu em agosto desse ano. Eu já falei das roupas de baixo anteriormente aqui no blog, então agora vou escrever só sobre o vestido externo. Então acompanhe a seguir como foi o precesso de pesquisa e confecção desse traje, vamos lá?
Modelo e referências
Minha principal ideia nesse traje era representar a vestimenta de uma mulher de classe alta que morava em Pisa - na região da Toscana na Itália - em meados de 1550 - 1560. Quando falamos em renascimento é importante delimitar um recorte geográfico, pois cada região desenvolveu um estilo bem específico. Como referência para o meu vestido, eu utilizei duas referências principais: uma é o vestido de sepultamento da Eleonora di Toledo, de 1562, e a outra é o vestido do Museu de Pisa, também de 1560s.
Outras referência que utilizei, mas para alguns detalhes foram um quadro da Maria di Médici de 1555-7, e outro da Eleonora di Toledo, de 1549. No fim desenhei o meu próprio modelo, sem me ater a fazer uma reprodução exata de alguma dessas referências.
Molde e corte
Para a parte da saia, utilizei o estudo da modelagem da saia do vestido de Pisa feito por Katerina da Brescia, adaptando as proporções para as minhas medidas. Eu tracei o molde diretamente no tecido, e como meu tecido tinha o dobro de largura do tecido da época, 'economizei' alguns recortes.
Para a parte de cima do vestido tracei o molde do zero nas minhas medidas, tendo como referência o molde da Janet Arnold no Patterns of Fashion.
Eu fiz um teste de modelagem no tricoline, provando por cima dos stays e kirtle (veja processo de confecção dessas peças aqui) e fiz alguns poucos ajustes.
As mangas fiz de forma parecida, mas também usando o estudo da Katerina como referência. Minha intenção era unir elas ao vestido usando botões, como no quadro da Maria di Médici. De tecido principal usei um veludo de decoração, e para decorar usei passamanarias metalizadas.
Costura e acabamentos
Saia
Comecei a costura pela saia, unindo os paineis com uma costura reta, e sem dar acabamento nas bordas do tecido, como era comum de se fazer na época já que veludo não costumava desfiar tanto. Após passar todas as costuras abertas, fiz a aplicação do feltro na barra de uma forma diferente como seria feito na época, mas ainda mantendo a mesma estrutura e caimento. Depois disso, apliquei as passamarias, disfarçando as costuras feitas à máquina.
Para a cintura eu franzi a parte de cima de forma comum, e deixei duas aberturas, que foram finalizadas com um revel à mão. Não era comum aplicar vista nessas aberturas, e segui isso também. Nesse traje fui utilizando técnicas mistas, onde as costuras mais visíveis seriam à mão, mas o que não apareceria foi feito na máquina.
Corpete
Para o corpete, eu primeiro fiz a estrutura da parte externa, utilizando uma sarja no lugar do buckram que seria usado na época. Para prender os dois tecidos temporáriamente utilizei um alinhavo de alfaite, e depois costurei as bordas do veludo na sarja por dentro à mão, pegando apenas o tecido interno.
Depois disso costurei as passamanarias, e então uni o corpete no vestido com alguns pontos à mão pela parte externa. Com essa parte pronta fiz e costurei as alças dos botões.Por último, alfinetei e costurei o forro, também com pontos à mão pra não aparecer do lado de fora da peça. Para fechar, bordei os ilhóses, alinhados de forma espiralada como seria feito historicamente, e preguei colchete nas alças para fechar.
Mangas
Nas mangas eu comecei fazendo as marcações de onde iria a passamanaria e os recortes. Os recortes eu tentei várias técnicas antes em retalhos, e pra mim o que deu mais certo foi dobrar ao meio e cortar com a tesoura mesmo. Em seguida costurei as passamanarias verticalmente.
A parte de cima eu costurei faixas de veludo com a passamanaria por cima, embaixo finalizei aplicando mais uma faixa cobrindo as bordas, e em cima eu apliquei um revel. As bordas dos tecidos também foram deixadas sem finalização na parte de dentro. Como fechamento, em cima coloquei os botões, e nos punhos o fecho é com alça de linha.
Resultado:
De acessórios, o que usei foram brincos de pérolas da La Duchese, uma tiara que fiz aplicando passamanaria e pérolas, e a rede de cabelo minha mãe fez em crochê, utilizando um soutache metalizado.
Foto por Larissa Lopes (esquerda) e Zero (direita) |
E cara, modéstia a parte, eu AMEI o resultado! Já fazia muito tempo que eu queria um traje renascentista e me senti realizada, de verdade. Foi um dos trajes mais demorados que já fiz pra mim mesma, e achei que valeu super a pena. Com certeza pretendo explorar mais estilos do renascimento no futuro.