terça-feira, 30 de junho de 2015

Desafio de costura histórica: Corpete 1840s - Traje Jane Eyre

    Sim, eu pulei o desafio #5. Não deu tempo de fazer nada no tema  =/. Ainda estou pensando se ainda faço o tema do 5 (praticidade) ou se em algum mês faço dois itens do mesmo tema pra compensar. O tema do desafio #6 é 'Fora da sua zona de conforto', e o corpete do último traje que fiz se encaixa completamente nele.

Inspiração


    Utilizei como referência o figurino de Jane Eyre, sendo mais específica esse da imagem acima. Já queria fazer algo relacionado a Jane Eyre por conta do tema do evento (literatura do séc. XIX), mas o modelo do vestido decidi quando encontrei um tecido xadrez e vi que era parecido com um dos que vi no filme. A título de curiosidade, apesar de a história se passar na década de 1830, os figurinos são de 1840s, por escolha do figurinista.

Molde e corte



    Para o molde, usei como referência o do Patterns of Fashion e também dei uma olhada no The Cut of Women's Clothes. Mas no final das contas acabei traçando o meu do zero usando uma apostila que tenho, por conta da praticidade já que eu não teria tempo de fazer uma peça piloto.

    Em relação ao corte, foi um desafio conseguir reproduzir a forma como o xadrez era disposto nos moldes. Envolveu muita observação, marcas no molde e tecido e ainda assim tive uma peça cortada errada. O fato de o tecido acabar esticar não só no viés mas também na largura acabou dificultando um pouco mais.

Costura e acabamento



    A costura foi uma aventura, rs. Porque por não ter feito uma peça piloto então fui do molde direto pro tecido que eu iria usar, tendo que aprender a fazer os detalhes na hora. O corpete é forrado em tricoline e tem barbatanas de plástico. A gola e a parte de baixo finalizei com viés e nas costas ele é fechado com zíper mesmo. 


    Para fazer o franzido na parte da frente (shirring) eu usei fitas de cetim por dentro. Usei a mesma técnica nas mangas. Só consegui dar o efeito certo na terceira tentativa. Na primeira tentei franzir só com linha, como provavelmente era feito na época; na segunda tentei com elástico e só depois decidi fazer com as fitas de cetim.



     A saia já foi mais tranquila de fazer, porque eu já tinha feito algo semelhante. Ela é pregueada e fechada com colchetes. Também coloquei colchetes pra prender o corpete e a saia evitando que mostrasse o corset por baixo conforme eu me mexesse. 

Underwear

    Como esse traje é quase da mesma época de um dos meus trajes vitorianos, muita coisa que eu já tinha consegui reaproveitar. Por baixo do vestido eu usei chemise e drawers (já falei delas aqui), bumpad, anágua de cordão e anágua comum (post) e o corset optei por usar um de 1890, que mesmo sendo anacrônico iria dar a silhueta que eu precisava (também já falei dele aqui no blog).


    Portanto a única roupa de baixo que tive que fazer foi a chemisette (espécie de camisa curta pra ser usada por baixo do vestido). Foi uma peça super simples de fazer, ela é fechada na parte de baixo por fitas de viés costurado, e na gola com colchete. Como referência, além das imagens do filme usei também essa peça  e essa página do livro da Janet Arnold.

Resultado final


    Eu fiquei bem satisfeita! Gostei de como o caimento ficou... Fiquei aliviada porque eu mal tive tempo de provar o traje antes de usá-lo. Também consigo perceber como melhorei em relação ao traje da Victoria, que foi o primeiro que eu fiz. As únicas coisas que pretendo mudar com mais calma é o franzido das mangas, que pretendo fazer à mão e também o viés do corpete, que pretendo substituir por um do mesmo tecido que o resto do vestido. Ainda não sei se troco o zíper por botões ou se deixo assim mesmo. Preciso agradecer a Pauline dos Diários Anacrônicos que me ajudou a passar as pregas da saia, uma roupa bem passada é outro nível, rs. 

Ficha do Desafio de Costura Histórica: 



Número do desafio: #6: Fora da sua zona de conforto 
Tecido: lã sintética, tricoline, percal
Molde: Feito por mim.
Ano da peça: 1840-1850
Materiais utilizados: Viés de cetim, colchetes, botões, renda de tule, zíper, viés de algodão, barbatanas de plástico
Quão historicamente correto é?: 40%*
Total de horas para finalização: perdi a conta, rs, algo entre 10h e 15h, talvez
Quando utilizou pela primeira vez: 21 de junho, no 4º encontro vitoriano de Florianópolis
Custo total: cerca de R$65 (praticamente só gastei com o tecido xadrez)

*Como eu calculo a acuidade histórica: 25% aparência, 25% materiais, 25% técnicas, 25% modelagem
Referências:

Apostila de modelagem ETEC
Cinemattire 
Costumer's Guide
Historical Sewing
Miss Macraes's blog
Patterns of Fashion, Janet Arnold
The Cut of Women's Clothes, Norah Waugh


sábado, 13 de junho de 2015

Recriação Histórica: comportamento e etiqueta do século XIX em Our Deportment, parte I

Parte 1 : Comportamento - geral.


     Our Deportment foi um livro escrito por John H. Young. Foi publicado nos Estados Unidos em 1879 e a edição que eu li foi a de 1881. O livro apresenta diversas regras de etiqueta e conduta nos seguintes assuntos:  boas maneiras, apresentações, saudações, etiqueta em visitas, cartões, conversação, jantares, recepções, festas e  bailes, na rua e em espaços públicos, ao montar e dirigir, corte, casamento, vida doméstica, educação feminina, cartas,  regras gerais de conduta, nascimentos, funerais, negócios, vestimenta, higiene, jogos e linguagem das flores e pedras preciosas. 
     Ou seja, o livro abrange praticamente qualquer situação em que as pessoas precisem interagir e diz qual é a melhor forma de fazer isso.

     Esse livro é bem extenso (tem cerca de 430 páginas) e eu não o li de cabo à rabo, fui selecionando as partes que eu considerei mais relevantes para a minha persona e também o que poderia ser aplicado aos dias de hoje; sem a intenção de fazer um resumo de tudo o que é dito até porque o livro vai direto ao ponto, sem enrolações. Eu vou dividir as minhas anotações sobre esse livro em três partes: uma sobre comportamento, outra sobre encontros, e a última sobre vestimenta/aparência.

    Em Our Deporment essas dicas e regras não são dadas de uma forma tão imperial como eu coloquei aqui no texto. Adaptei a tradução dessa maneira e coloquei as informações em tópicos porque assim eu me lembraria do conceito mais facilmente. Espero que esse formato também seja melhor pra quem estiver lendo. 

Prefácio e introdução:

     "Nenhum assunto é mais importante para a maioria das pessoas que o conhecimento das regras, costumes e cerimônias da boa sociedade, que são comumente expressados através da palavra 'Etiqueta'. [...] Essas regras fazem a interação social algo mais agradável e facilita hospitalidades, quando todos os membros da sociedade consideram essas regras importantes e as seguem fielmente." A moral não pode ser desassociada das boas maneiras, que são adquiriadas por meio da educação e observação.

Capítulo II: Nossas boas maneiras

     As características mais marcantes de uma dama envolvem uma ascensão espiritual. 

- a paciência, generosidade e bondade são elementos que formam a virtude de uma mulher. 

Capítulo XXL: A educação superior* das mulheres



- Uma mulher deve ter conhecimentos em fisiologia, higiene e saúde para poder cuidar de seus filhos.
- É bom que a mulher tenha um bom senso de independência. Esse bom senso pode por exemplo ajudá-la para que possa gerir um negócio e suas finanças caso seja necessário.

Capítulo XXII: A Arte de escrever cartas 

- Nunca use abreviações.
- Os números, exceto os relacionados a datas, devem ser escritos por extenso.
- O papel utilizado deve ser branco e de boa qualidade.
- Na carta entre amigos, é de bom tom falar sobre assuntos em comum, e não se deve demorar muito pra respondê-la.


Capitulo XXIII: Regras gerais de conduta






- Em grupos, deve-se dar a mesma atenção para todos.
- Uma mulher sempre deve saber dançar, quer queira dançar em público ou não. Algum outro exercício para fortalecer os músculos também é recomendado.
- Uma mulher bem educada não se senta de pernas cruzadas.
- Trocadilhos são sempre considerados vulgar.
- A supressão da emoção é a marca das boas maneiras.
- Para ser um bom ouvinte é necessário não apenas ouvir, mas demonstrar interesse na conversa
- Ter uma aparência agradável e falar gentilmente é um dever que temos para com os outros.
- Nunca afete superioridade, trate as pessoas em uma posição social abaixo da sua com cortesia e igualdade.
- Nunca contradiga alguém diretamente. Diga: "Desculpe-me, mas eu acredito que você está enganado ou mal informado".
- Seja sempre pontual. Não desperdice o tempo dos outros.
- Nunca tenha conversas privadas com alguém enquanto se está em grupo, nem faça alusões a coisas que só vocês dois saibam.
- Ao entrar em uma sala, dê um breve cumprimento a todos antes de falar com as pessoas individualmente.
- É falta de cortesia ficar olhando no relógio na presença de alguém.
- Não leia na companhia de outras pessoas.
- Não fique tocando nos ornamentos e móveis da casa que você está visitando.
- Não dê as costas pra alguém com quem está falando sem pedir licença antes.


* N.T.: Woman's higher education, no original. Não sei se a tradução que escolhi é a melhor.

      Espero que tenham gostado da seleção que eu fiz das regras de etiqueta. Pra quem se interessar e quiser saber mais, o livro pode ser lido na íntegra aqui (edição de 1881, usada como referência para esse post) e ser baixado em pdf aqui (edição de 1882). Quem preferir também pode comprá-lo na Amazon (edição de 1879)